Família para quem precisa
Alberto
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O Alberto satisfaz plenamente nossos desejos de paternidade. Hoje ele tem treze anos e está conosco há dois.
Quando fomos habilitados e incluídos no Cadastro Nacional de Adoção, havíamos estabelecido um perfil diferente: dois irmãos, até cinco anos, sem exigência em termos de gênero e etnicidade, com doenças tratáveis. Na nossa busca, o Alberto apareceu ao longo do caminho. Resolvemos abrir-nos para a possibilidade de uma criança mais velha. E o Alberto, resolveu abrir-se para nós.
Pagamos para ver. E valeu à pena.
Não, não foi amor à primeira vista. Não olhamos para ele e dissemos “‘é o nosso filho” e nem ele olhou para nós e disse “são os meus pais”. Mas construímos, ao longo destes dois anos, nossa relação como pais e filho. Amor se constrói. Trata-se de exercício diário. Requer comprometimento e sacrifício. Dá trabalho. Mas também traz muitas recompensas.
Nada temos de heróis. Buscamos a adoção por falta de outras opções para ampliar a família, e também o Alberto investiu na adoção por falta de outras opções. Hoje, na luta do dia-adia - com livros, estudos, futebol, malcriações, castigos, disciplina, limites, brincadeiras e doses inesgotáveis de energia -, há um sorriso maroto que trocamos aqui e ali, um olhar de soslaio que traduz a cumplicidade. Dura, às vezes, segundos, mas são os momentos que deixam claro para todos nós que realmente vale. E muito.
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Nem por um momento pensamos: será que teria sido melhor se tivéssemos esperado por
crianças mais novas? O Alberto preenche nossas vidas plenamente e gostamos de ter em
casa um filho que tem já vontade, personalidade, opiniões. Temos plena consciência hoje,
pelas trocas com outras famílias, que a expectativa de que crianças mais novas são menos
traumatizadas não procede. A experiência do abandono - precisamente no momento da
vida em que estamos mais vulneráveis - é radical, e vale tanto para um bebê quanto para
um adolescente. A diferença é que um adolescente sabe dizer o que pensa e sente.
Se nos fosse novamente dada a chance, faríamos tudo de novo. E torceríamos para que o
futuro conspirasse de maneira a que encontrássemos o Alberto e vice-versa.
Rafael