
Família para quem precisa
O relato de um juiz
ā
Sou juiz em Farroupilha, RS. Em abril de 2015, fui surpreendido por um casal que
adotou quatro irmãos. Adotar é tudo de bom. Os filhos, venham de onde vierem,
precisam ser adotados.
ā
Eu vi dois anjos
ā
Os anjos existem. Sexta-feira, no foro de Farroupilha, dois anjos sentaram na minha frente.
Eles vestiam roupas comuns. Não tinham asas. Era um casal. Vieram em busca de quatro
crianças. Traziam consigo um menino de 12 anos e uma menina de 8 anos, vindos da Casa
Lar. A menina de 3 anos e o menino de 1 ano, recém-feito, ficaram na Casa Lar. Os quatro
são irmãos.
ā
O anjo-homem suava. Disse que passou a noite sem dormir. Parecia estar numa sala de
parto, observando a mulher que dava à luz quatro nenês. Senti que a qualquer momento
iria desmaiar.
ā
O anjo-mulher deu colo para a menina de 8 anos, como se dar à luz a quatro fosse a coisa
mais normal do mundo.
ā
E há quem não acredite em milagres.
- Sim, vamos adotar os quatro. - Disseram eles.
- E, vocês - perguntei ao menino e à menina –, querem ser adotados por eles?
Os dois apenas riram.
- Quem primeiro me chamou de mãe - disse a mulher -, foi o de 1 ano. Ele estava grudado
na cerca e disse: “Mamãe”.
ā
E lá se vão os quatro irmãos com os seus anjos-da-guarda. Os quatro são muito queridos,
um mais querido e mais lindo que o outro. O mais velho cuida dos demais. A de 8 anos é
a simpatia em pessoa. A de 3 anos, cabelos cacheados e loiros, agarra na mão de quem
quer que seja e não a solta mais. O pequeno é chamado de “Budinha”, pois é a paz e o
sorriso do berçário.
ā
Talvez não saia limão de um pé de jabuticaba, mas que é possível nascer flor no meio da
lama … isso é!
ā
Os genitores, presos por tráfico, foram destituídos do poder familiar. Nem por isso, as
crianças deixaram de ser flores.
ā
Não sei se dará certo. O certo é que anjos existem. Milagres existem. O menino e a menina
ao sair da minha sala me abraçaram. Acho que estavam felizes. Isso me faz chorar. Isso me
emociona. Isso justifica eu ser juiz. Jamais esquecerei: sexta-feira, eu vi dois anjos.
ā
Mario Romano Maggioni